Festa do Rosário de Silvianópolis foi tema de pesquisa da coordenadora do curso de História da Univás
Na Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), quando o assunto é a Festa do Rosário de Silvianópolis, que neste ano completou 233 anos de tradição e devoção, logo se vem à tona a pesquisa de doutorado da coordenadora do curso de História e docente do Mestrado em Ciências da Linguagem da Univás, professora Andrea Silva Domingues. "Ao estudar a Festa de Nossa Senhora do Rosário de Silvianópolis, tive como objetivo entender os costumes, a performance, as artes de viver e fazer, constituídos no cotidiano do espaço urbano e rural; a partir dos valores, trajetórias de vida e lutas sociais dos agentes históricos que participam da festa; entendo cultura como parte integrante de um campo de mudanças e disputas sociais e políticas; cercado de interesses e reivindicações", adianta.
A Festa do Rosário de Silvianópolis foi realizada neste ano de 28 a 30 de junho de 2013 e completou sua 233ª edição. "É a festa onde o lúdico, a devoção, o moderno e o tradicional se entrelaçam e promovem a interação de todos: nativos, visitantes, congadeiros, festeiros, camelôs. É a festa do povo, feita pelo povo. Não é um espetáculo para ser visto, mas sobretudo para ser compartilhado", comentou a jornalista, egressa do curso de Jornalismo da Univás, Ana Maria Beraldo.
O auge das comemorações aconteceu no sábado, 29 de junho. As festividades iniciaram-se ao amanhecer com a Alvorada Festiva. Às 16h aconteceu a "Subida do Reinado", um dos rituais mais belos da cultura popular do Sul de Minas, não só pela tradição secular, mas pela sua magnitude. "O cortejo tem como figuras principais o rei e a rainha e a guarda-coroa. O rei e a rainha são representados na figura dos festeiros que, protegidos com sombrinhas, conduzem as coroas, símbolos da Festa. Neste ano, o casal de festeiros foi Márcia Adriana Silveira e Leandro Nadalini Monteiro", disse a jornalista Ana Beraldo, que completou "a guarda-coroa, um grupo de 'soldados' uniformizados e munidos de espadas, tem como missão proteger as coroas. Este ritual tem suas raízes nas antigas lutas entre mouros e cristãos na Idade Média. Esta representação dramática foi introduzida no Brasil pelos jesuítas com o objetivo de catequizar os índios e escravos africanos, ressaltando o poder da fé cristã", disse.
Participaram também do ritual as congadas de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e a Congada Mirim São Pedro, que fez sua estreia, além das congadas convidadas. Com seus batuques envolventes, gingados coreografados e cores vibrantes, as congadas deram brilho ao cortejo.
A coordenadora do curso de História da Univás, professora Andrea Domingues conta que o estudo de sua tese de doutorado desenvolveu-se através da História Oral, refletindo sobre as maneiras de viver dos participantes da Festa, "na tentativa de entender essas experiências, valores, cotidianos e costumes que auxiliarão na reflexão da maneira de pensar o coletivo. Buscando a todo o momento perceber essas experiências e processos relacionados ao festejo, observando que a história, por mais distante que seja, tem por objetivo provocar reflexões sobre o mundo atual. Com esta pesquisa aprendi a viver, entender e a continuar acreditando na luta por um mundo melhor, os depoimentos foram emocionantes, mágicos e cheios de fé, político e lazer", disse a docente da Univás.
Investigar as trajetórias de vidas dos homens e mulheres que participam da festa de Nossa Senhora do Rosário em Silvianópolis foi uma tentativa de compreender como as lembranças do passado são recriadas e inventadas no presente, aponta a pesquisa da professora Andrea Domingues. "Na perspectiva de querer saber como os sujeitos que participam da festa se movimentam e atuam na realização do festejo há mais de 200 anos, percebendo que a festa ocupa um espaço privilegiado na cultura de seus participantes, e que esta deve ser entendida como um conjunto de valores compartilhados, privilegiei a documentação oral. Investigar as memórias de diferentes grupos e participantes da festa - tais como membros da associação, festeiros, congadeiros, cozinheiros, doceiras, juíza, guarda-coroas, auxiliares de cozinha e expectadores comuns - é uma tarefa complexa, devido às múltiplas formas pelas quais tais sujeitos se expressam, narrando com gestos e palavras, o significado atribuído por cada um ao festejo", lembra a coordenadora do curso de História da Univás.
Curiosidades da Festa do Rosário de Silvianópolis
A história da Festa do Rosário, segundo pesquisas da historiadora Carlina de Morais Dutra, que também era membro da Associação Nossa Senhora do Rosário (faleceu em 2009) foi fundada pelo padre Manoel Negrão de Monte Carmelo, natural de Guaratinguetá (SP). Para organizar os festejos, ele criou a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos que, com o passar dos anos, passou a ser denominada de Associação Nossa Senhora do Rosário, em atividade até hoje. "Acredito que a finalidade dessas irmandades era proteger o negro e propiciar-lhe divertimentos. Os senhores de escravos faziam concessões aos escravos permitindo que esses se alegrassem com suas festas nas senzalas", documentou a historiadora. Em suas pesquisas, a historiadora cita um episódio acontecido em 1920, quando o bispo da época, dom Otávio Chagas de Miranda, em visita à cidade constatou que a Festa era muito profana e a Capela do Rosário estava em péssimo estado de conservação e determinou a demolição da Igreja. Mas a população se rebelou e nova capela foi construída, conhecida hoje por Casa da Santa.
Por Lucas Silveira Ascom/FUVS Com informações da jornalista Ana Maria Beraldo
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